sábado, 25 de abril de 2009

Jogos populares tradicionais

A propósito dos Jogos Populares, o Dr. António Magalhães Cabral elaborou um apontamento psicossociológico, que tomamos a liberdade de transcrever.

"O Jogo Popular"
«O jogo consiste em transformar um meio num fim em si mesmo» - disse Piaget. Isso acontece com o jogo infantil. No seu 4º estádio de desenvolvimento, entre os 8 e os 12 meses (período sensório-motor) a criança aprende a separar os meios dos fins e o jogo surge. Por exemplo: uma bola com que a criança brinca escapa-se para trás de um obstáculo; antes, fora do alcance visual, não a procurava, mas agora sim. Ultrapassar o obstáculo é o meio a que pode achar graça. Se o converte num fim, aparece o jogo.
O mesmo sucede com o Jogo Popular. O homem que lança fora do campo onde trabalha a pedra que o estorva, pode converter o lançamento num fim em si mesmo e assim nasce o jogo do malhão. Isso quer já dizer que os Jogos Populares se ligam ao trabalho; à experiência rural: são vivência e prazer. Claro que derivam, ulteriormente, para a exibição e a competição, mas sem corte do cordão umbilical que continua a ligá-los à vida do campo, o que já não acontece com jogos mais refinados, de alta competição, onde aquela ligação se perdeu. A simplicidade e a rudeza de processos mantêm-se no jogo popular, enquanto no jogo de alta competição o fim que era o prazer voltou a ser o meio - de atingir fama, fortuna, etc. Até nos «jogos sem fronteiras», a diferença é visível: estes partem da mente para a realidade, embora mais ou menos apoiados nesta; os jogos populares partem da realidade para a realidade."
Dr. António Magalhães Cabral
Artigo extraído do "Portal do Folclore Portugês"

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