quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Baptismo na Gafanha -1

Hoje irei transcrever o que a “Monografia da Gafanha”, do Padre João Vieira Rezende, nos diz sobre o baptismo.
Quando nascia na Gafanha uma criança, a grande alegria dos pais não era menos jubilosa entre a pequenada já existente naquele lar. Era ver a sofreguidão com que cada um dos miúdos reclamava para o seu colo o recém-nascido, e também a ingenuidade com que acreditava nas subtilezas e dissimulações discretamente empregadas pelos pais para comunicar este faustoso acontecimento sem lhes despertar curiosidades prematuras, desnecessárias e inconvenientes à idade infantil.
E as frases anunciadoras, recebidas dos pais, eram transmitidas pelos lábios rosados dos filhos à garotada que brincava na areia despreocupadamente.
- A minha mãe, esta noite, foi buscar um menino à borda! (margem da Ria).
-Meu pai trouxe uma menina da bateira dos labregos!
-Minha mãe achou um menino na Costa-Nova!
-Minha mão foi à feira comprar uma menina!
É assim mesmo.
A mulher da Gafanha diz-se que anda a comprar durante o seu estado de gravidez.
É durante esse período que se vai preparando o enxoval e o berço, que afinal é uma pobre canastra confeccionada com fasquias de verga, constando aquele de duas faxas, duas camisinhas, dois lencinhos, cueiros e fraldas.
Quando esta indumentária se junta para lavar chama-se-lhe “fatiota”.
O que mais importava porem, era o baptismo, que só excepcionalmente se realizava após o oitavo dia do nascimento.
O nome a dar ao catecúmeno era escolhido pelos padrinhos ou pelas madrinhas, conforme o sexo, e era aos avós paternos e maternos que se dava essa honra para os primogénitos. Só para os outros baptizandos serviam de padrinhos os outros membros da família ou outros indivíduos das suas relações.
Cada padrinho oferecia ao afilhado um outro enxoval superior na qualidade ao dos pais; constava de duas camisas, dois vestidos (espécie de bibe), dois lencinhos e uma manta de baeta de um metro.
A criança levava à pia o enxoval da madrinha, ordinariamente mais rico do que o do padrinho, sendo costume adicionar à mantilha (manta), prendendo-se-lhe interiormente com linhas, uma toalha branca, engomada, e com rendas a saírem por cima e a formarem tufo em volta do rosto da criança.
Esta era ainda levada à pia pela parteira que, depois de realizado o baptismo, a ia oferecer a Nª Senhora, prostrada de joelhos diante do altar.

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