segunda-feira, 30 de novembro de 2009

As mulheres da Gafanha (parte II)


“A seca do bacalhau na Gafanha emprega muitas centenas de mulheres, durante parte do ano, havendo secas onde o trabalho é permanente, porque abrange duas campanhas, a dos lugres e a dos arrastões. “Na referência a esta actividade feminina focaremos em especial a Gafanha, visto ser ali que ela atinge o maior desenvolvimento, como é também ali que existem as mais importantes secas do bacalhau de todo o País.” Assim escreve Maria Lamas, que acrescenta: “Pelos costumes e ambiente em que vivem e ainda porque tanto se entregam à lavoura como à faina da seca ou qualquer outra que se lhes proporcione, elas conservam, sob certos aspectos, a mentalidade da mulher do campo; mas a disciplina das tarefas realizadas em comum ou distribuídas numa coordenação de actividades, o sentido das responsabilidade, os horários fixos e ainda o contacto com outras realidades directamente ligadas ao seu próprio esforço vão-lhes dando uma noção diferente da vida e criando consciência da importância do seu labor.” A escritora que andou pela nossa região recorda a maneira de viver das mulheres da Gafanha, com a sua “ignorância”, o conceito de “fatalismo, a que subordinam o seu destino”, mas também o instinto de “defesa dos seus interesses”, tornando-as “solidárias”. E sublinha: “No vestuário revelam maior cuidado na limpeza do que as camponesas, que saltam da enxerga, estremunhadas, antes do luzir do dia, e lá vão, para a labuta sem fim, indiferentes à água, ao sabão, ao pente... “Não se imagine, porém, que as mulheres do povo, naquelas circunstâncias, têm uma vida mais leve e fácil, em relação às suas irmãs que permanecem em contacto permanente com a terra. Com muito poucas excepções, elas fazem longos percursos, de manhã e à tarde, porque moram longe do local onde trabalham.
(Continua)
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins e publicado no Livro do XX Festival, realizado em 10 de Julho de 2004.

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