sábado, 7 de novembro de 2009

O Baptismo na Gafanha - 2

Formado imediatamente o pequeno cortejo para casa, nela se entrava pela porta da cozinha e não pela da sala porque não era "bô".De regresso da igreja, o neofitozinho era apresentado à mãe pela madrinha que dizia: -“Aqui tendes o vosso menino; daqui o lubámos pagão e aqui o trazemos cristão, pela graça de Deus e do Sp’ito Santo”. A mãe, muito comovida, agradecia com expressões similares, cheias de muita fé e de muitas lágrimas, a graça que Nosso Senhor lhe fez, porque o seu menino já tem alma. Cena deveras emocionante, a que não ficavam indiferentes os circunstantes!
A seguir todos se sentavam à mesa e as crianças, à parte, pelo chão e em esteiras, para o jantar, não sendo excluída a família dos padrinhos. Na véspera tinha sido abatido um carneiro ou uma ovelha, que ao tempo não excedia o preço de 500 ou 600 réis.
Três pratos apenas, mas abundantes, sendo o primeiro a sopa de couve com batatas inteiras e negalhos ou molhinhos. Era o prato obrigatório e predilecto da maioria.
Os negalhos eram bocados do bucho e do fato gordurento do carneiro, de toucinho e hortelã, atados em molhinhos com linhas.
A seguir vinha outro prato, ou melhor, a frigideira com o refogado da outra carne que era condimentada com batatas ou com arroz.
De futuro e pela Páscoa, até ao casamento dos afilhados, os padrinhos iam levar-lhes os folares a que chamavam bolos, comprados em Aveiro à padeira de Eixo. Não tinham mais do que 2 ou 3 ovos com excepção do útimo que era no ano do casamento e que tinha 6 ovos.
Os afilhados iam agradecer aos padrinhos, pedindo-lhes a bênção de joelhos. Hoje consiste este agradecimento em ir estimar os padrinhos, oferecendo-lhes amêndoas e vinho, sendo rapazes.
Ainda se conserva o costume de os afilhados saudarem os padrinhos pedindo-lhe a bênção. Todos estes costumes têm recebido levíssimas alterações.
Aos nascimentos e baptismos andam ligadas muitas superstições. Eis algumas:
Se durante a gravidez a mulher trouxer no refego da cintura da saia qualquer objecto, a criança nasce defeituosa. Assim, se a criança nasce com o lábio fendido é sinal de que a mãe trouxe alguma chave no bolso ou na cintura durante a gestação.
Finas manchas rubras a pontear a epiderme denunciam a imprevidência da mãe costureira que arrecadou as agulhas em qualquer dobra dos vestidos junto à cintura.
Outras quaisquer colorações pigmentares, manchas ou sinais que interessam a epiderme da criança, têm a sua explicação no transporte de objectos na cintura, que estejam de harmonia com as colorações figuradas. Pois se a coloração figurativa de uma colher existente no braço de uma mulher, que ainda aqui vive, é apresentada como argumento indiscutível da falta de cautela da mãe! ...
Já não há perigo se os objectos se trouxerem na blusa.
A criança corre sempre o perigo de ser chuchada pelas bruxas antes do baptismo e deste modo morre sem alma. Por vezes a criança aparece viva, mas doente, fora do berço ou a grandes distancias. A criança é chuchada pelas unhas.

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