quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Concelho de Ílhavo - parte I

Em 8 de Março de 1514, D. Manuel I concedeu foral ao Concelho de Ílhavo.
Embora pequeno, este concelho é um dos mais evoluídos, de mais elevado nível de vida e de maior densidade de população, do Distrito de Aveiro e encontra-se devidamente electrificado e dotado de uma extensa rede de distribuição de água, que atinge já todas as freguesias, bem como as praias da Barra e Costa Nova do Prado, mercê de um projecto apresentado pelo Município, o qual, em 1968 mereceu a aprovação e uma avultada comparticipação do Ministério das Obras Públicas.
Tem à volta de trinta mil habitantes, a maioria dos quais tem exercido a sua actividade nas fainas do mar, nos trabalhos da lavoura e nas lides domésticas.
Hoje, porém, graças ao grande desenvolvimento industrial, já muitos dos seus filhos encontram ocupação, tanto na parte administrativa como na parte técnica das muitas e variadas fábricas e oficinas, que têm sido construídas e postas a funcionar, tanto na Zona Industrial como em outros locais adequados.
Em todo o concelho nota-se também um enorme incremento urbanístico, com lindas vivendas edificadas por toda a parte, graças aos proventos auferidos pelos seus naturais, que desempenham as suas arriscadas funções nas várias modalidades da pesca, mas, principalmente, a bordo dos grandes arrastões, que vão laborar para zonas longínquas, como a Terra Nova, a África do Sul, a Noruega, a Mauritânia, etc., e ainda às remessas dos emigrantes, que, geralmente também em actividades ligadas ao mar, trabalham afincadamente, na América do Norte, no Canadá, na Alemanha, na Holanda, e na França.
O concelho é composto por quatro freguesias: Ílhavo, Gafanha da Nazaré, Gafanha da Encarnação e Gafanha do Carmo.
A sua sede – Ílhavo – é uma ridente vila, veleira e airosa, que fica situada a cinco quilómetros ao Sul da Cidade de Aveiro.
Esta proximidade, ao mesmo tempo que contribuiu para que, em tempos passados, os seus naturais estudassem no Liceu, na Escola Técnica e na Escola do Magistério daquela cidade, alcançando assim preparação para continuar os estudos, ou para desempenhar cargos de responsabilidade, tanto na função pública, como em actividades particulares, prejudicou-a, também, consideravelmente, no que diz respeito ao desenvolvimento comercial.
A população, muito activa e arrojada, pode dizer-se que é flutuante, uma vez que a maioria dos seus homens exerce a sua actividade profissional, desempenhando as funções de comandante, oficial ou marinheiro, nos vários navios que sulcam as águas dos oceanos e, orgulhosamente, levam a bandeira de Portugal aos portos de todo o mundo.
Assim, não é raro ouvir grupos de marinheiros contar episódios passados, quer em Hamburgo, em Londres, em Anvers, no Rio de Janeiro ou em Singapura, quer em S. João da Terra Nova, na cidade do Cabo ou em Holsteinsborg, como se estivessem a relatar casos ocorridos em terras vizinhas da sua.
As mulheres, particularmente as mais jovens, apresentam-se galantes no porte e no trajar e, talvez pela sua ascendência grega ou fenícia, são muito bonitas, alegres e donairosas, dando imensa graça e encanto à terra onde nasceram.
As outras três freguesias, que, há pouco de mais de um século, não passavam de areais estéreis, onde nada se criava, mercê do esforço hercúleo dos seus laboriosos habitantes – pé no barco, na apanha do moliço da Ria, pé em terra, nos esforçados trabalhos da lavoura – transformaram-se em ricas planícies aráveis, produtivas e muito férteis, onde abunda o milho, o feijão, a ervilha, as pastagens e, principalmente a batata.
Esta riqueza, juntamente com o ganho dos que andam no mar ou estão emigrados, contribuiu para que todas elas, particularmente a Gafanha da Nazaré, atingissem um progresso extraordinário.
Nesta freguesia, que é hoje uma vila em constante desenvolvimento e sede de importantes e valiosas empresas de navegação e pesca, encontra-se situado o porto bacalhoeiro, onde, no regresso das longas viagens, se encontram ancorados dezenas de arrastões, que dão emprego a muitas centenas de pescadores, não só de Ílhavo e das Gafanhas, mas também de muitas outras terras do litoral.
A fim de trabalhar nas secas do bacalhau, deslocaram-se dos concelhos mais pobres do Nordeste Transmontano, do Alto Douro e das Beiras centenas de famílias, que aqui se radicaram, melhorando bastante o seu nível de vida e contribuindo para que a população aumentasse de uma forma considerável.

DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL
Além da antiga e aristocrática fábrica da Vista Alegre, conhecida em todo o país e até no estrangeiro, pela sua magnífica louça de porcelana e pelas finas e belas peças artísticas, tão admiradas e cobiçadas por toda a gente e que, na maior parte das vezes, são escolhidas para presentear as figuras gradas e representativas, que visitam a Nação Portuguesa, um grande surto industrial se tem feito sentir, desde há uns dez ou quinze anos.
A cerâmica – principalmente a fabricação de azulejos e mosaicos – a preparação de barros, a indústria química e os plásticos, a serração e carpintaria, a metalurgia, a pesca, a secagem do bacalhau, as conservas de peixe, a refrigeração e conservação do pescado e de outros produtos, além da construção naval, são algumas das principais indústrias do Concelho de Ílhavo, as quais empregam para cima de treze mil operários.

Praia da Barra (Ílhavo) – Trecho da Ria.

MEIO RURAL – EXPLORAÇÃO ÁGRO-PECUÁRIA
Além das férteis planícies, que já citei, da Nazaré, da Encarnação e do Carmo, também as Gafanhas d'Aquém e da Boavista, da freguesia de Ílhavo, são bastante produtivas, pois todo o seu solo, que é ubérrimo, se encontra muito bem aproveitado, não ficando nada a dever aos restantes lugares do interior da mesma freguesia, tanto a Norte como a Sul e a Nascente, onde se produz uma exploração agrícola intensiva, em regime de pequena propriedade.
Não é pois de admirar que deste concelho se exportem, todos os anos, avultadas quantidades de batata, de feijão e de ervilha, para os grandes centros de consumo e que, devido às boas pastagens, muito do leite aqui produzido, se destine ao abastecimento da capital.

Por Amadeu Eurípedes Cachim
In: Aveiro e o seu Distrito; revista nº 29 de Novembro de 1981

(Continua)

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