sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ranchos Folclóricos – II

Nos cantares e danças reflecte-se toda a cultura comunitária: daí que os componentes de um rancho folclórico a sério tenham jus a ser tidos como agentes culturais entre os melhores. Poucos como eles se sentirão à altura de criar um museu etnográfico, assistindo-lhes ainda o dever de lutar contra a descaracterização, a perda de identidade que nos últimos anos ameaça não só a nossa região como também o país em geral. Para tanto basta uma coisa simultaneamente simples e difícil: é necessário que a comunidade local sinta o rancho como seu.
Convém ir um pouco à história escrita de que como sabemos, o grego Heródoto é tido como pai. Ele apoiava-se muito nas tradições orais ou “logoi”, interessando-se pelos costumes populares. Pela época clássica, em toda a Europa, a tendência para estudar nas escolas a cultura grega e latina marginalizou um pouco o gosto pelas coisas do povo, mas podemos sempre encontrar em Portugal homens como Fernão Mendes Pinto, Francisco Alves, António Tenreiro e outros autores de roteiros que se sentem atraídos por muitos usos e costumes. Foi todavia o Romantismo, no dealbar do século XIX, que lançou o grito de alerta. A palavra folclore (do inglês folk-povo; e lore, conhecimento), empregou-a pela primeira vez o inglês Williams Thoms para designar exactamente a “ciência da tradição dos povos civilizados e sobretudo dos meios populares”. Isto em 1846. Antes, em 1807, Campe criou o termo etnografia com sentido de descrição dos povos, ainda que tal sentido evoluísse para a descrição dos povos primitivos, o que hoje já não acontece. Jorge Dias (“Estudos de Antropologia, I”, Imprensa Nacional, 1990, p21) diz assim: “A etnografia observa, analisa e descreve uma determinada cultura e a etnologia sistematiza, compara, generaliza e interpreta em termos gerais”. Também, segundo ele, o folclore é o “ramo da etnografia que visa, em especial, a recolha e descrição das tradições orais, ou melhor, da literatura oral de qualquer povo”. Ergologia é o estudo da cultura material, enquanto etnossociologia consiste no estudo da estrutura social e da psicologia colectiva. De notar que, como as cantigas populares, também os provérbios, as adivinhas, lendas, contos, etc., fazem parte do folclore.
(Continua)
Artigo do Jornal “Publico” de 20 de Novembro de 1994, da autoria de António Cabral.

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails